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Nunca É Somente Sobre Música 2025 #4

Atualizado: 12 de set.


Manifestações são mais poderosas e efetivas em comparação a boicotes isolados. Um boicote silencioso, por maior que seja, é julgado pelos beneficiários da roda individualista simplesmente como “desinteresse”. Nos últimos anos, artistas mundo afora rejeitaram convites de eventos com parcerias e índoles questionáveis. Essa ação é um pequeno pedaço, que só tem seu sentido completo dentro de uma postura, produção crítica e fomento de alternativas. A nossa vontade de criar arte carrega um impulso profundo, capaz de apontar a direção do que queremos. Encontrar a saída de espectador imóvel, para viver uma construção de outro mundo, só é possível quando compartilhamos. Toda manifestação artística ganha força com a participação coletiva. Esse encontro é impossível de ser ignorado: é essa a força que vai atingir nossos alvos.





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Crizin da Z.O.

EP: ACLR+6


O som do futuro é periférico, emergindo das margens. Só quem vive a pluralidade no dia a dia tem a capacidade de transitar e compreender os diferentes espaços e linguagens. Crizin da ZO conhece e reinterpreta a vida urbana ao fazer sua leitura. Batuques em harmonia com riffs, funk com elementos de industrial e drum’n’bass. Um forte clima de caos, sentido na pele por quem precisa atravessar a cidade constantemente para sobreviver; mobilidade e territórios em conjunto com a interação digital em meio à precarização, cenários do tempo atual.

“... periferia é o novo centro, não quero seu argumento, porque eu não aguento …aqui ninguém faz sala, eu gosto da Bjork mas prefiro a Juçara!” - Musica: Fatal (participação Edgar)

Esse EP vem após o excelente álbum Acelero, não como extra, mas como extensão, sucinto e direto. Nessa fase, tudo funciona organicamente como uma coisa só: peso intermediado pelas bases eletrônicas, o resultado é denso e tenso.





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Denevér

Álbum: Economía Doméstica


São milhares de desaparecidos pela ditadura chilena. A partir de relatos de familiares que vivem sem respostas, que esse álbum inicia gradativamente. Para a banda formada por um duo, chinelo / húngaro, o titulo economia domestica, representa não o fator econômico, mas o enfrentamento emocional de uma casa, que sofre com fraturas externas de uma estrutura maior. Com bateria eletrônica e influencia pós punk, o som se torna menos soturno que o tradicional e mais forte, quase um heavy-post-punk, movido pela indignação contida nas musicas, em plena consciência de quando as feridas de hoje foram abertas, sem perdão a negação da história. A banda abre os trabalhos de um pequeno e novo selo em Budapeste, Abraxas Audio. Uma típica surpresa que impressiona, encontrada somente ao acaso.





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Frankie and the Witch Fingers

Album: Trash Classic


A estética do cinema B e o revival de synth punk, infestou positivamente a banda de origens no neo-psicodelico. Ao atravessar uma mudança de rota, ensaiada quase timidamente nos últimos anos. Aqui é consolidado uma identidade bem própria da banda. A mudança de conceito consequentemente termina em afetar o som. Alienação da mente, experimentos tóxicos, horror corporal tudo isso se mistura de forma maníaca e debochada, sendo empacotado ao meio de comentários sobre consumo e decadência urbana. O lixo clássico se torna uma homenagem ao mundo trash, com suas formas inventivas de fazer uma obra divertida e estranha.





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Kae Tempest Vídeo Clipe: Know Yourself


Como seria encarar a si mesmo? Em um dueto com seu eu do passado, Kae Tempest, trabalha seu texto autobiográfico para fora de si, expandindo a mensagem para toda a comunidade trans. Em Know Yourself, a partir do sample de uma de suas primeiras musicas, é construído um dialogo com a raiva, que hoje encontra a paz e aconselha "conheça a si mesmo", após o confronto, deixamos a TV e espelho do cabeleireiro e partimos para uma festa, uma celebração merecida, onde o medo se torna pequeno, perto da alegria de conhecer a si mesmo.

"Finalmente, a parte difícil acabou... Essa transição solidificou minha resiliência contra o que posso enfrentar do mundo. Alguém pode me matar fisicamente, mas a morte espiritual que eu estava sofrendo acabou." - Kae Tempest , entrevista para NME

Esse single é peça central do seu álbum atual self titled ou autointitulado. Reforçando o caráter biográfico e importância dessa nova fase. Kae tempest impressiona pela escrita não só como rapper, mas em trabalhos literários reconhecidos e premiados.





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Croíthe

Single: Soldier


Não são poucos os artistas irlandeses que vem se pronunciando contra o genocídio em Gaza. A história da Irlanda como colônia inglesa e longas interferências externas, os coloca em rápida identificação. O caso de represálias sobre o grupo Kneecap ficou notório, chamando atenção pelo exagero e recebendo apoio de outros artistas. Aparentemente uma contenção mais ampla vai ser difícil, manifestações em grandes festivais mundo afora, colocam na mesa uma virada na opinião publica. Dentro desse cenário, a jovem banda irlandesa Croíthe próxima de contemporâneas com maior experiencia, pode contar com uma estrutura mínima de apoio. O seu single Soldier com tom reflexivo sobre a palestina, volta seus rendimentos diretamente para a Medical Aid for Palestinians. Fica visível que isolados de seus pares e publico, os artistas não tem voz, sendo assim a conexão real se faz urgente.




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MONCH MONCH Álbum: MARTEMORTE


Uma space opera, com humor brasileiro. O mundo retratado no álbum, poderia ser trilha de uma produção audiovisual,  o clima estruturado tem a cara do nosso quadrinho independente e a música "Jeff Bezos paga um pão de queijo" sem duvida seria o ápice da história "Eles vão pra marte e nois vai pra morte". O desejo dos bilionários, repetidamente nas capas de revistas como avanço tecnológico, quando o real conteúdo é o puro colonialismo aos moldes das velhas monarquias. MonchMonch em seu segundo álbum, mantém sua energia entre punk animado e rock experimental, mostrando o ridículo que é destruir um mundo e partir para destruir o próximo. Ao apontar os absurdos, talvez o desfecho humano não termine igual ao narrado em Martemorte.





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Velvet Meadow

Single: Velvet Sundown


Qual deveria ser a reação de uma banda ao ver um artista falso gerado por IA, reproduzindo de forma genérica parte de suas referências, e ainda por cima com nome similar? Uma musica resposta! que garanto ser muito mais legal que a da IA. Poderíamos fazer uma lista imensa de bandas reais de influência sessentista muito mais interessantes, porém todas com media de visualizações pouco significativa. Entre os diversos problemas implicados, a falta de transparência chega a ser berrante, novas bandas tem dificuldade em difundir seu nome online. Fabricar artificialmente um destaque instantâneo tão fácil, dentro da logica dos streamings de musica, obviamente exige algum recurso ou privilegio. Fica difícil apontar os possíveis abusos sem informação, mas o buraco deve ser fundo e não estamos cegos.





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Murina

Álbum: Nueva Forma de Vida


A incerteza pode ser libertadora, até fundamental, como no caso do trio de Barcelona Murina. Ao começar como duo, baixo + bateria, a experiência anterior não é desperdiçada mas aproveitada e transformada com a chegada da guitarra que carrega texturas e ruídos mais profundos, enquanto a força de um Grunge com espirito Riot Girl é a linha principal, sem obviedade. As faixas são curtas e diretas com exceção de "Koti" com seus quase 6 minutos, divergindo no formato, menos explosivo, mais atmosférico e explorador, Seria um possível caminho sonoro a frente? na perspectiva da banda é impossível saber, sua criação é fruto de um encontro único, das particularidades envolvidas naquele instante, aberta as possibilidades e quem sabe até uma nova forma de vida.





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Uganga

Álbum: Ganeshu

Ganeshu busca conexões entre Ganesha e Exu. A Banda Uganga, carrega em si raízes e conexões longas com a cena nacional pesada, sob liderança de Manu Joker, figura conhecida no triangulo mineiro. Enquanto Exu é mensageiro e guardião dos caminhos, Ganesha é conhecida por remover os obstáculos. As referencias assim como o crossover cru e brutal da banda não é restrita, busca inspiração enquanto vive a própria cultura Brasileira. compreende que existe dinâmicas e conversas possíveis, sem deixar suas posições sobre o social e ambiental de lado. Depois de uma rápida porrada, a ultima faixa de Ganeshu, jamais seria uma balada, mas faz muito sentido que seja um rap.




Cultura e tecnologia são a intersecção de uma batalha pelo futuro.


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Ruído Livre

Apontar e criar alternativas, tem um papel fundamental de questionamento. O Projeto Ruido Livre, é uma proposta de hacking ativismo, afim de experimentar e produzir a partir de uma perspectiva Anti Big Techs. A reflexão é um importante primeiro passo e toda iniciativa contraria é uma manifestação em potencial. Ruido livre é associado a banda Macaco Bong que se pronuncia frequentemente sobre o quanto artistas são esmagados pelas grandes estruturas.


Notas sobre IA:

A arte sempre foi tomada das nossas mãos, modelos de Inteligência Artificial escancaram esse assalto. Todo o conglomerado da indústria cultural, nunca se importou com a nossa criatividade, somente com resultados, que quanto mais garantidos e previsíveis melhor, sua única vantagem: O controle da distribuição, todo o resto é constituído por nos, pelas nossas vontades, interesses, atenção e trabalho que faz tudo isso funcionar. Eliminar a expressão humana retira vozes diversas da equação, perdemos não só financeiramente, perdemos força em comunicar nossas próprias ideias e cultura. A geração por IA, é a mediana cuspida por uma base de dados, ela é incapaz de criar novidade. Criar algo novo, demanda somar novas e diferentes experiencias. A vida real é a matéria prima, que segue sendo explorada, e segue precisando da nossa defesa.


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